Postado em: 24/03/2020 - Últimas Notícias

Após escassez de componentes, indústria de eletrônicos agora teme queda na demanda

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Antes preocupados com a falta de componentes para a produção de aparelhos, os fabricantes de celulares, computadores e outros equipamentos viram o cenário melhorar com a retomada da produção na China nas últimas semanas. Mas agora enfrentam um novo desafio: a possibilidade de não ter para quem vender seus produtos.

A questão é que, com as medidas de restrição de circulação tomadas por alguns estados, que afetam o varejo físico, e o consumidor sem confiança em gastar com as incertezas em torno da pandemia do coronavírus, novas compras já estão sendo adiadas.

“O problema inverteu agora. O suprimento está levemente reduzido e a demanda está sendo muito mais deprimida. O problema vai ser demanda e crédito no Brasil”, disse o presidente de uma marca nacional que não quis se identificar. A avaliação do executivo é que a demanda tenha uma retração entre 30% e 40% no ano.

De acordo com Reinaldo Sakis, gerente de pesquisa e consultoria da IDC, a estimativa era que a falta de componentes teria efeito na oferta entre o fim de abril e o começo de maio, sem um grande impacto sobre o ano como um todo. Mas diante do atual cenário, quando o fornecimento de componentes e a produção tiverem voltado à normalidade em junho, “não vai ter ninguém na rua”.

Sakis disse que na China, as vendas da indústria para o varejo (“sell-in”) apresentaram queda entre 20% e 30% em janeiro e de 50% em fevereiro, com as restrições de movimentação impostas pelo governo.

A avaliação de Sakis é que a retração da demanda no Brasil tenha efeitos negativos sobre as três principais datas de vendas, do varejo – dia das mães, em maio; Black Friday, em novembro e o Natal. “Na Black Friday e no Natal você vai ter produto disponível, mas não se sabe se haverá renda e descontos, que são o que movimentam as compras”, disse.

Sobre os descontos, Sakis disse que a margem de manobra dos fabricantes ficará reduzida por conta da expectativa de aumento de custos que pode chegar a 50% nos próximos meses. O grande culpado é o dólar, que apresenta valorização na casa de 30%. Outro efeito é a volta na cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) com as mudanças na Lei do Bem, com mais 10%. Os reajustes de preços por parte dos fornecedores por conta da redução da oferta de componentes é outro efeito.

Em suas projeções — que estão sendo revisadas praticamente todos os dias, segundo Sakis – a IDC traçou três cenários: no otimista, as vendas de smartphones e computadores caem menos de 1%. No realista, as quedas são inferiores a 10%. Já no pessimista, o tombo pode chegara 15%.

De acordo com Sakis, do jeito que as coisas estão caminhando, o cenário otimista já está fora de questão. “Se fosse só a questão da oferta, o segundo semestre poderia levar a uma retomada. Mas com situação de transporte bloqueado e outras restrições, isso não deve acontecer”, disse.

Fonte: Valor Investe

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